quinta-feira, 23 de abril de 2015

A Abordagem Interdisciplinar


Porque a abordagem interdisciplinar é importante?

Pois esta abordagem pode possibilitar um enriquecimento no aprendizado, visto que o educando passa a observar um fenômeno sob perspectivas complementares e estas perspectivas propiciam um diálogo entre as áreas do conhecimento.
As abordagens interdisciplinares não são, de longe, uma proposta nova. Já na Antiguidade Clássica existia uma preocupação em dar unidade ao saber. O "saber universal" organizava o conhecimento durante a Idade Média, a integração do saber se dava através do Septivum ou Artes Liberales, que era composto pelo Quadrivium (Astronomia, Aritimética, Gerometria e Música) depois pelo Trivium,  (Retórica, Dialética e Gramática). Nestas disciplinas estavam contidas todas as explicações de fenômenos naturais.
No Renascimento os conteúdos começaram a ser fracionados em ciências independentes, mas ainda com uma preocupação em se manter a unidade do saber. Foi no Paradigma cartesiano-newtoniano que ocorreu o desencadeamoento das especializações e visão mecânica do mundo. a concepção de época dava conta que o Mundo era uma máquina e como máquina deveria ser desmontada e explicada por estudos específicos. Inicia-se aí a dispersão e fragmentação do saber.
Este paradigma foi ainda agravado pela era industrial, e ainda pelo positivismo, o conhecimento era cada vez mais fracionado, especializado e isolado. Foram criadas metodologias próprias. já não havia preocupação com o todo, com as causas comuns. Minayo (1994, p.46) afirma que “o século XIX marcou um recuo interdisciplinar”.

E como podemos superar este modelo fragmentado?

Em pleno século XXI não podemos  aceitar o modelo industrial e positivista na educação, devemos pensar em formas de subverter o isolamento das disciplinas, para que consigamos abranger o conhecimento. Devemos explicar os fenômenos que cercam os estudantes sob uma ótica complexa, onde várias perspectivas auxiliam na construção e contextualização deste fenômeno.
A escola do Século XXI não pode manter o foco na transmissão de informações. Devemos instrumentalizar os estudantes com visões, o mais globais possíveis, do conhecimento, trazer a realidade para a escola.
Freire (1998) denunciou o "ensino bancário" e ainda hoje temos práticas educacionais voltadas à memorização de conceitos que deverão ser replicados no espaço oportuno em provas, onde a concepção é provar que é capaz de memorizar uma informação. Devemos criar possibilidades para que os estudantes criem seus próprios conhecimentos. Não se trata de treinar o estudante, mas sim auxilia-lo em seus percursos educativos.
Não se trata abandonar todas as práticas, estudos e concepções e ir em direção a algo novo, como um náufrago busca um bote salva vidas, pois não podemos banalizar a interdisciplinaridade, deve-se haver conexões entre as áreas dos conhecimentos.
Concepções interdisciplinares colocam em xeque a escola tradicional, rompe com seu modelo, para isso devemos desconstruir o que nos fora passado como verdade absoluta. Propor uma nova organização do espaço escolar, para uma nova prática e atitude: a Atitude Interdisciplinar
O que se designa por interdisciplinaridade é uma atitude epistemológica que ultrapassa os hábitos intelectuais estabelecidos ou mesmo os programas de ensino. Nossos contemporâneos estão sendo formados sob um regime de especialização, cada um em seu pequeno esconderijo, abrigado das interferências dos vizinho, na segurança e no conforto das mesmas questões estéreis[1]. (GUSDORF apud FAZENDA,1991, p. 24).

Não advogamos o abandono das disciplinas, mas sim pretendemos instigar um dialogo interdisciplinar aproximando os saberes. A interação de saberes de duas ou mais disciplinas
Essa interação pode ir da simples comunicação de ideias à integração mútua dos conceitos diretores da epistemologia, da terminologia, da metodologia, dos procedimentos, dos dados e da organização referentes ao ensino e à pesquisa. (MICHAUD, 1972 apud FAZENDA, 1996, p. 27).

Pensar a interdisciplinaridade no século XXI é necessário, pois, o ensino mais do que nunca, deve ser significativo, contextualizado e motivador. Para que possamos formar cidadãos críticos, conscientes e que consigam pensar e agir por si próprios.

Rafael A. Michelato



REFERÊNCIAS 
FAZENDA, I. C. A. Interdisciplinaridade-transdisciplinaridade: Visões culturais e epistemológicas. In: FAZENDA, I. C. A. (Org) O Que é interdisciplinaridade? — São Paulo : Cortez, 2008.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 7. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998.
MINAYO, M.C.S. Interdisciplinaridade: funcionalidade ou utopia? Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 3, n. 2, p. 42-63, 1994


[1]  Carta enviada por Georges Gusdorf à Ivaní fazenda, registrada em FAZENDA, I. C. A. Interdisciplinaridade: um projeto em parceria. São Paulo: Loyola, 1991.

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