Porque
a abordagem interdisciplinar é importante?
Pois esta abordagem pode possibilitar um
enriquecimento no aprendizado, visto que o educando passa a observar um
fenômeno sob perspectivas complementares e estas perspectivas propiciam um
diálogo entre as áreas do conhecimento.
As abordagens interdisciplinares não são, de
longe, uma proposta nova. Já na Antiguidade Clássica existia uma preocupação em
dar unidade ao saber. O "saber universal" organizava o conhecimento
durante a Idade Média, a integração do saber se dava através do Septivum ou Artes Liberales, que era composto pelo Quadrivium (Astronomia, Aritimética, Gerometria e Música) depois
pelo Trivium, (Retórica, Dialética e Gramática). Nestas
disciplinas estavam contidas todas as explicações de fenômenos naturais.
No Renascimento os conteúdos começaram a ser
fracionados em ciências independentes, mas ainda com uma preocupação em se
manter a unidade do saber. Foi no Paradigma cartesiano-newtoniano que ocorreu o
desencadeamoento das especializações e visão mecânica do mundo. a concepção de
época dava conta que o Mundo era uma máquina e como máquina deveria ser
desmontada e explicada por estudos específicos. Inicia-se aí a dispersão e
fragmentação do saber.
Este paradigma foi ainda agravado pela era
industrial, e ainda pelo positivismo, o conhecimento era cada vez mais
fracionado, especializado e isolado. Foram criadas metodologias próprias. já
não havia preocupação com o todo, com as causas comuns. Minayo (1994, p.46)
afirma que “o século XIX marcou um recuo interdisciplinar”.
E como
podemos superar este modelo fragmentado?
Em pleno século XXI não podemos aceitar o modelo industrial e positivista na
educação, devemos pensar em formas de subverter o isolamento das disciplinas,
para que consigamos abranger o conhecimento. Devemos explicar os fenômenos que
cercam os estudantes sob uma ótica complexa, onde várias perspectivas auxiliam
na construção e contextualização deste fenômeno.
A escola do Século XXI não pode manter o foco
na transmissão de informações. Devemos instrumentalizar os estudantes com
visões, o mais globais possíveis, do conhecimento, trazer a realidade para a
escola.
Freire (1998) denunciou o "ensino
bancário" e ainda hoje temos práticas educacionais voltadas à memorização
de conceitos que deverão ser replicados no espaço oportuno em provas, onde a
concepção é provar que é capaz de memorizar uma informação. Devemos criar
possibilidades para que os estudantes criem seus próprios conhecimentos. Não se
trata de treinar o estudante, mas sim auxilia-lo em seus percursos educativos.
Não se trata abandonar todas as práticas,
estudos e concepções e ir em direção a algo novo, como um náufrago busca um
bote salva vidas, pois não podemos banalizar a interdisciplinaridade, deve-se
haver conexões entre as áreas dos conhecimentos.
Concepções interdisciplinares colocam em xeque
a escola tradicional, rompe com seu modelo, para isso devemos desconstruir o
que nos fora passado como verdade absoluta. Propor uma nova organização do
espaço escolar, para uma nova prática e atitude: a Atitude Interdisciplinar
O que se designa por
interdisciplinaridade é uma atitude epistemológica que ultrapassa os hábitos
intelectuais estabelecidos ou mesmo os programas de ensino. Nossos
contemporâneos estão sendo formados sob um regime de especialização, cada um em
seu pequeno esconderijo, abrigado das interferências dos vizinho, na segurança
e no conforto das mesmas questões estéreis[1]. (GUSDORF apud
FAZENDA,1991, p. 24).
Não advogamos o abandono das disciplinas, mas
sim pretendemos instigar um dialogo interdisciplinar aproximando os saberes. A
interação de saberes de duas ou mais disciplinas
Essa interação pode ir
da simples comunicação de ideias à integração mútua dos conceitos diretores da
epistemologia, da terminologia, da metodologia, dos procedimentos, dos dados e
da organização referentes ao ensino e à pesquisa. (MICHAUD, 1972 apud FAZENDA,
1996, p. 27).
Pensar a interdisciplinaridade no século XXI é
necessário, pois, o ensino mais do que nunca, deve ser significativo,
contextualizado e motivador. Para que possamos formar cidadãos críticos,
conscientes e que consigam pensar e agir por si próprios.
Rafael A. Michelato
REFERÊNCIAS
FAZENDA,
I. C. A. Interdisciplinaridade-transdisciplinaridade:
Visões culturais e epistemológicas. In: FAZENDA, I. C. A. (Org) O Que é
interdisciplinaridade? — São Paulo : Cortez, 2008.
FREIRE,
P. Pedagogia da autonomia: saberes
necessários à prática educativa. 7. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998.
MINAYO,
M.C.S. Interdisciplinaridade:
funcionalidade ou utopia? Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 3, n. 2, p.
42-63, 1994
[1] Carta enviada por Georges Gusdorf à Ivaní
fazenda, registrada em FAZENDA, I. C. A. Interdisciplinaridade: um projeto em
parceria. São Paulo: Loyola, 1991.
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